Projeto visita experiências alimentares exitosas em Santarém e Recife
Santarém e Recife, locais com rica cultura alimentar e muitas oportunidades para fortalecer sistemas alimentares urbanos sustentáveis, foram as cidades visitadas pelo projeto Cidades e Alimentação, parceria da Embrapa Alimentos e Territórios com a União Europeia, entre os dias 13 e 24 de março. As cidades selecionadas para o projeto fazem parte do LUPPA – o Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares.
Nesses locais, a equipe da Embrapa coletou dados sobre as iniciativas locais e interagiu com as equipes das prefeituras que atuam nos programas alinhados ao fortalecimento da segurança alimentar e nutricional de ambas as regiões. Em Santarém (PA), foram realizadas duas reuniões técnicas com as equipes das secretarias de educação, assistência social, agricultura, conselho de alimentação escolar municipal e divisão de segurança alimentar e nutricional e visitas à campo. A equipe do Núcleo local da Embrapa Amazônia Oriental (Belém – PA) participou da agenda.
“Santarém é um município imenso em termos de área e conta com 200 mil agricultores mapeados. Existem cinco cooperativas fornecendo para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em Santarém, que ao todo possui 12 cooperativas formais. A prefeitura dá apoio técnico para as cooperativas acessarem o PNAE e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e essa interação dinamiza a economia local, impacta positivamente a qualidade de vida nas áreas rurais e fomenta circuitos curtos de produção e consumo”, comenta Gustavo Porpino, líder do projeto.
Um dado que chamou a atenção de Porpino é que em Santarém 33% das compras públicas de alimentos para o PNAE são da agricultura familiar local, um percentual acima dos 30% determinados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O repasse do Governo Federal, segundo a prefeitura, cobre 30% dos custos de Santarém com alimentação escolar.
Visita a produtores em Santarém – A equipe do projeto também se reuniu com os produtores rurais de Piracãoera de Baixo, comunidade de
agricultura de várzea localizada a uma hora de lancha de Santarém. Os agricultores estão organizados na Cooperativa de Agricultores de Várzea de Santarém (Coopruvas) e fornecem alimentos para o PNAE.
“Entre setembro e novembro de 2022, a Coopruvas comercializou R$394 mil via PNAE. Desse total, R$315 mil foram repassados aos cooperados. O principal produto é a melancia, com 92.335 kg comercializados ao preço de R$305 mil”, relata Porpino.
“A conexão da alimentação escolar, em Santarém, com cooperativas de produtores locais é um caso de sucesso que já despertou o interesse da FAO em replicar a prática em outras regiões que enfrentam desafios similares para escoar a produção da agricultura familiar”, complementa.
O projeto conheceu ainda o programa Hortas Escolares, presente em 24 escolas do município paraense. Na escola César Simões Ramalheiro, localizada no bairro “área verde”, região de baixa renda, os estudantes auxiliam no cultivo da horta e já levam o aprendizado da escola para casa. Graziela Nascimento, 14 anos, aluna do 9º ano, diz ter plantado uma horta em casa a partir do que aprendeu na escola. Já Tainara Correia, 15 anos, aluna do 9º ano, passou a comer hortaliças após ter tido a experiência de ver as folhosas crescerem na horta escolar.
Gravimetria em Recife – Em Recife, o projeto realizou a análise de resíduos orgânicos em quatro feiras livres para quantificar e categorizar o desperdício de alimentos, prática conhecida como gravimetria. A quantificação contou com apoio da Abrelpe, prefeitura de Recife e colaboração de estudantes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
A capital pernambucana possui uma secretaria de agricultura urbana, responsável por coordenar ações de fomento à produção de alimentos na região metropolitana e em 2021 lançou o seu 1° Plano de Agroecologia Urbana. “O programa de agricultura urbana de Recife inclui sistema agroflorestal e compostagem no pátio da prefeitura, sementeira, hortas escolares e mapeamento dos agricultores e feiras agroecológicas. A cidade possui 40 feiras agroecológicas e outros 25 pontos menores de comercialização de hortaliças e frutas cultivadas localmente sem agrotóxicos”, relata Porpino.
A viagem a Recife também incluiu visitas a hortas escolares, sementeira, local de produção de mudas da prefeitura, horta em implementação no centro de tratamento ao alcoolismo e ao banco de alimentos administrado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) na Ceasa de Pernambuco. O banco do programa Mesa Brasil, fundado há 20 anos, é um dos maiores do Brasil. Em 2022, distribuiu 2,1 milhões de kgs de alimentos.
“Analisar o sistema alimentar dessas cidades, a partir de suas trajetórias, para compreender as causas e razões de suas conquistas e também como cada cidade enxerga seu desafio, é um grande aprendizado sobre os sistemas alimentares urbanos, especialmente a partir da perspectiva de cidades de biomas, tamanhos e históricos diferentes, mas que geram informações que são muitas vezes comuns a diversas cidades brasileiras”, ressalta Juliana Tângari, diretora do Comida do Amanhã e coordenadora geral do LUPPA.
O projeto “Cidades e alimentação: governança e boas práticas para alavancar sistemas alimentares urbanos circulares” é liderado pela Embrapa Alimentos e Territórios, unidade da Embrapa com sede em Maceió (AL), em parceria com a União Europeia, por meio dos Diálogos Setoriais União Europeia/Brasil, e conta com apoio do Instituto Comida do Amanhã, ICLEI América do Sul e WWF Brasil.
Foto: Elias Rodrigues